sábado, 12 de julho de 2008

UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA: o eco no sertão

“Viver é negócio muito perigoso” (página 3).

É mesmo perigoso, meu caro. Eu me lembro muito bem do dia em que mergulhei no perigo da vida, e me desdobrei para sorver melhor a beleza que encontrei nessas palavras. Palavras que me lavaram a alma e me clarearam o mundo para um saber estético. Mesmo que eu ouça:

“Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa” (página 8).

E eu sei menos. Mas aprendi que aprender é tão essencial quanto ensinar, tanto quanto morrer vale o mesmo que viver.

“Viver é muito perigoso ...” (página 9).

Não desconcordo. Está nos olhos de velhinhos chorando na rua, nas filas de hospitais, nos corredores do INSS, no impacto de um tapa na cara, ao curvar na estrada da vida, no encontro consigo mesmo.

“Viver é muito perigoso ...” (página 17).

Como no primeiro beijo: perigo e prazer; vontade de correr e pular, de sorrir e chorar, de se encolher e dançar, de beijar mais e se perder no sertão que vira mar.

“Viver não é muito perigoso?” (página 26).

É, sim, meu caro. Como viver em São Paulo (sertão ao contrário), decifrando um enigma por dia, e ganhando apenas o direito de tomar um chope nos bares lotados da cidade. E quem não pode é porque já foi devorado e não se deu conta.

Viver é mesmo muito perigoso, mas vale o risco pelo sulco que se faz no coração de quem fica, como saudade, saideira, saídade. No entanto ...

“Toda saudade é uma espécie de velhice” (página 30).

E toda velhice é uma espécie de lágrima atrasada, respingando no sertão de cada um.

‘Viver é muito perigoso” (página 38).

É por isso que se vai cortar cana e adoçar os sonhos. Correr descalço nas ruas e pensar na São Silvestre, mergulhar na piscina de casa e cheirar cocaína na penumbra da sala quando a madrugada se cala e já não há mais galo nem canja nem quase vida.

“Viver é um descuido prosseguido” (página 57).

Como o quê? Com um lapso?

“Viver é muito perigoso ...” (página 70).

e

“Despedir dá febre” (página 52).
Grande Sertão: Veredas.

2 comentários:

Laurene disse...

Os textos entre a frase de Rosa são seus, não é, Giba?

Estou com uma revista aqui em minha cidade e aceito colaborações: http://lucemiro.tripod.com/revistacidadedosolbomdespacho
Abraços do Lúcio Jr.

Gilberto G. Pereira disse...

Isso mesmo, Lúcio. Os textos entre os textos de Rosa são meus. Já acessei uma vez sua revista, que você faz com seu pai, né. Quando eu tiver alguma idéia interessante, vou escrever para postar lá. Obrigado por aparecer por aqui, sempre!
Uma braço!
Gilberto