quarta-feira, 15 de julho de 2009

YEATS E BANDEIRA: dois poetas formidáveis

Bandeira (à esq.) e Yeats

É curioso como The lake isle of Innisfree, de William B. Yeats (1865-1939), se assemelha a Vou-me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira (1886-1968). Mas não tenho elementos para dizer quem influenciou quem, mesmo porque, em Itinerário de Pasárgada, Bandeira nem cita o nome de Yeats em relação ao processo criativo de seu poema mais famoso. Tampouco olhei data. Na verdade, pouco importa.

Os dois poemas são belíssimos, os dois poetas são formidáveis. O que os une é essa sofreguidão pelo distante, e ao mesmo tempo perto demais, na alma, como se quisessem jogar todo o cotidiano da vida para uma ilha, como se procurassem o autoexílio, flertando com o íntimo de si mesmo, explorando o alumbramento, o transe, no caso de Bandeira, evocando a natureza, pelo lado de Yeats.


The lake isle of Innisfree

I will arise and go now, and go to Innisfree,
And a small cabin build there, of clay and
Wattles made;
Nine bean rows will I have there, a hive for the
Honey bee,
And live alone in the bee-loud glade.

And I shall have some peace there, for peace
Comes dropping slow,
Dropping from the veils of the morning to
Where the cricket sings;
There midnight’s all a glimmer, and noon a
Purple glow,
And evening full of the linnet’s wings.

I will arise and go now, for always night and
Day
I hear lake water lapping with low sounds by
The shore;
While I stand on the roadway, or the pave-m
ents gray
I hear it in the deep heart’s core.



Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
-- Lá sou amigo do rei --
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

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