quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Dioniso e a consciência negra

                                                                                                                                   Pintura de Exekias, numa taça grega (circa 540 a.C.)
Dioniso numa nau: "Semelhança ímpar com a condição do negro expatriado"

O sol da Grécia antiga ainda ilumina nossas cabeças? A pergunta em tom de retórica serve para exemplificar a influência dos mitos nas artes até hoje. Segundo Junito de Souza Brandão, a mitologia não versa pela lógica, mas pelo saber intuitivo, aquele mais ligado à linguagem artística.

É neste sentido que o mito de Dioniso, o deus do vinho e do êxtase, influenciou o poeta e crítico literário, membro da Academia Brasileira de Letras, Domício Proença Filho, ao escrever Dionísio Esfacelado, que conta a saga do negro vindo da África para ser escravo no Brasil.

Segundo Proença Filho, a leitura dos mitos gregos o ajudou a buscar a medida trágica dos poemas de seu livro, porque encontrou em Dioniso (grafia utilizada por Brandão) uma semelhança ímpar com a condição do negro expatriado.

“Dioniso nasceu duas vezes. Filho de Zeus com Sêmele, foi perseguido por Hera. Além de ser um deus sofrido, era estrangeiro na Hélade e só foi para o Olimpo muito mais tarde”, diz o poeta.

Segundo ele, a vinda dos africanos para o Brasil e sua readaptação aqui equivale a um segundo nascimento. “E a identificação com a trajetória trágica e de afirmação de Dioniso ajuda a refazer essa consciência negra”, pondera.

(Texto publicado no jornal Tribuna do Planalto, in: Gregas raízes: a mitologia na contemporaneidade)

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