quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Domício Proença Filho é o segundo negro na presidência da ABL

Domício (direita) e seu colega imortal José Murilo de Carvalho

Membro da Academia Brasileira de Letras desde 2006 e agora presidente da instituição, Domício Proença Filho (79 anos) é um escritor afrodescendente, um dos poucos negros que tiveram a oportunidade de fazer parte do seleto grupo de escritores e intelectuais, e o segundo a presidir a ABL. O primeiro foi o cofundador da entidade Machado de Assis.

Diz que não vai debater a questão racial na ABL porque não faz parte da pauta da instituição, nem a favor nem contra. Diz também que não é cota, que não entrou na academia porque é negro e sim porque é escritor, embora seja a favor das cotas como política de momento. Mas mesmo que houvesse uma bandeira da consciência negra dentro da ABL, dificilmente Domício aderiria a ela. Ele parece não gostar muito da negritude como assunto de política. Não é de sua índole politizar a questão do negro nesses termos.

Eu já o entrevistei duas vezes por telefone, e nas duas vezes ele fugiu do assunto, mui educadamente, é verdade, mas fugiu. Mas a consciência negra, a meu ver, não precisa se eriçar por causa disso. Afinal, Domício é um grande poeta, um pesquisador de mão cheia sobre literatura, tendo o negro como objeto de sua pesquisa.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, hoje, Domício falou de Machado de Assis e do fato de ele, Domício, ser o segundo negro na história da instituição a presidi-la. Não posso me furtar da coincidência de eu estar aqui, mulato como ele, na presidência da casa. Mas entre Machado de Assis e eu existe uma distância abissal não só no tempo, como na própria dimensão de produção. Ele era um gênio. Virou a mesa da literatura brasileira.

Estou ansioso para ler seu discurso de posse na presidência da ABL. Dos livros de Domício que já li, a mim me toca muito um pequenininho de poesia intitulado Dionísio esfacelado (Quilombo dos Palmares), de 1984, que já resenhei aqui (leia). Ele também está no monumental trabalho de crítica e antologia de autores negros Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica, volume 2 (Editora UFMG), cujo perfil foi escrito por Vera Casa Nova, livro este também resenhado aqui (leia).

Entre seus títulos de não ficção se destacam Estilos de época na literatura (Ática, 1978), Pós-modernismo e literatura (Ática, 1988), Estórias da mitologia, volumes 1, 2 e 3 (Global, 2000).

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